
Era quinta-feira de um ano que ficou pra trás.
E naquela madrugada fria e silenciosa, carregava comigo minha bagagem, meus filhos, minha esperança – a pouca esperança que eu tinha naquele momento, e as incertezas diante daquele novo desafio que a vida acabara de me propor.
De imediato, eu precisava chegar ao aeroporto e embarcar rumo a uma nova vida, o mais breve possível. No carro, ia apenas observando a cidade nua. Imediatamente, tudo naquela pequena e angustiante cidade ficava pra traz. O sopro do vento em direção ao meu rosto tornava minha pele gélida e paralisada.
Finalmente estava sentada com meus filhos, nas poltronas 2/A e 2/B, respectivamente. O comandante dava as boas-vindas à tripulação, e a aeromoça realizava com eficácia os procedimentos de segurança. Confesso tê-la olhado com indiferença. Estava concentrada em mim naquele momento. Lembro-me apenas de que fomos informados que a temperatura-destino era de 28ºC. Pouco me importava a quantos graus “andava” aquele fatídico amanhecer! O que de fato observei foram as nuvens. Elas tinham um formato de um tapete estendido à espera de alguém (que agora caminhara só) para por ele poder pisar, caminhar e triunfar!
O sol nascia lindo, ainda que tímido! E ali nascia também uma nova esperança. Até que uma senhora – não afeiçoada ao sol saudável daquela manhã – interrompeu meu único prazer naquele instante: o prazer de ver o contorno que a luz do sol fazia na janela ao lado dela, do lado esquerdo da aeronave, e a fechou.
Minha respiração era ofegante, porém, o tempo todo tentava mantê-la no seu curso normal.
Desembarquei. Um sorriso “amarelo” me esperava no saguão do aeroporto, tentando tornar-se alegre, frustrou-se ainda mais ao se encontrar com o meu sorriso. Dados os cumprimentos, fomos pra casa. Eu estava exausta, exaurida, mas isso não era maior que o meu esgotamento emocional.
Durante algum tempo, dissequei todas as minhas forças, emoções e raciocínio. Tentava incessantemente, inutilmente assimilar a puxada de tapete que a vida me dera. Aquele que também deixei pra trás não era o mesmo homem que um dia escreveu: “Esse amor é meu e jamais o destruirei.” Definitivamente não era!
Já tinha ouvido falar que a vida é madrasta quando quer e, assim, sendo, quando não aprendessêmos por nós mesmos, ela nos ensinaria de forma cruel, como fazem as madrastas más.
Alternava dentro de mim, um momento de dor, outro de descontração. Mas tudo ainda muito fresco na minha cabeça como um peixe que acabara de sair do aquário e estava perdidamente procurando ar para sobreviver.
Minha cabeça dava mil voltas, mas prometi a mim mesma que lutaria bravamente; sabia que não seria fácil e que teria alguns momentos de fraqueza. Mesmo assim, carregava dentro de mim a certeza da volta por cima!
Dias azuis para todos!